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Texto e Fotos por Renata Coli

Pedras

Dadas as dificuldades de encontrá-las, deslocá-las, entre outros problemas, o artista brasiliense Lourenço de Bem se questionou, há aproximadamente 25 anos, sobre como trazer pedras para ornamentar o jardim residencial.

 

Das muitas questões e discussões internas, iniciava-se ali um processo criativo sobre formas de ter e expor pedras em ambientes residenciais e/ou urbanos, de uma maneira mais simples, prática e, porque não dizer, ecológica.

 

A enorme admiração pelas rochas e também pela capacidade que as pedras têm de trazer beleza, naturalidade e harmonia para o espaço onde se instalam o motivou a buscar respostas para cada item que o intrigava.

Experiência e possibilidades

 

Quando se trata de pedras de médio ou grande porte, basta pensar no peso, no manejo, na locomoção delas, para se ter a mínima ideia da dificuldade de extraí-las do seu habitat natural. E se cogitássemos a ideia de removê-las da natureza para atender a demanda de ornamentos com pedras, teríamos um resultado desanimador e devastador.

 

Decidido a deparar soluções nas artes plásticas e na construção civil, Lourenço de Bem viria facilitar tal realização e, assim, produzir pedras em tamanhos variados. 

 

E foi assim: o artista recriou pedras tão visualmente autênticas quanto às pedras naturais.

 

Neste processo, surgiu a ideia de produzi-las ocas e, portanto, leves - embora muito resistentes e duráveis.

 

Nos primeiros anos, experimentou inúmeros materiais que pudessem oferecer o aspecto desejado, avaliou o peso ideal para facilitar o deslocamento delas e a resistência necessária para enfrentar as intempéries climáticas com durabilidade.

 

O estado natural

 

É tamanha a naturalidade das pedras de Lourenço de Bem que põe em evidência a beleza da simplicidade.

 

Não há quem não se surpreenda com essas pedras, por alguma razão: volume, formato, textura, leveza, localidade onde encontram-se abrigadas. E, ainda mais, ao se dar conta de que não se trata de uma rocha verdadeira, recolhida da própria natureza, e sim de pedras projetadas, elaboradas e produzidas pelo artista – a reação do expectador alcança surpresa, satisfação, admiração.

 

É exatamente na forma estrutural moldada pelo artista – no formato da pedra dura, um agregado aparentemente sólido, porém oco e, portanto, muito leve, disforme, manchado – que se perpetra toda a harmonia da peça.

 

As cores diversas que compõem a tonalidade realística das pedras apresentam-se em inúmeros tons nas escalas do preto, branco, cinza, marrom, verde musgo, etc.

 

O artista conseguiu dar às suas pedras uma textura correspondente, tão semelhante a uma pedra metamórfica, como ela se apresentaria em seu estado natural, isomorfa às encontradas em leitos de rios terrestres, isto é, tendo sido moldadas pelo vento, pelas águas, etc. - mas, neste caso em especial, pelas mãos e sensibilidade do artista.

 

As pedras de Lourenço de Bem não somente adornam, como também realçam a beleza natural, trazendo para o habitat do homem contemporâneo a poesia, a sensação de calmaria e serenidade do mundo selvagem para perto de quem ali quer estar.

 

Amontoadas, formam o ambiente atrativo, charmoso e ideal para reunir pessoas; para o descanso casual, são utilizadas como assentos, local de repouso, meditação; para contemplar o que há em volta ou simplesmente para apreciar a ociosidade.

 

Durabilidade

 

As pedras de Lourenço de Bem são constituídas por materiais utilizados nas artes plásticas e na construção civil: aço, cimento, papel marché, cola, tinta, telas de arame, etc.

 

Embora sejam ocas e surpreendentemente leves, possuem uma duração extraordinária, por até aproximadamente três décadas em ambiente externo e expostas às adversidades do tempo (sol, vento, chuva, etc.). Após longo período e, quando necessário, podem ser restauradas para uma existência muitíssimo prolongada.

 

O resultado de anos de dedicação e experiência com o trabalho artístico traz, entre outras coisas, reflexões para a vida do artista. Lourenço faz uma analogia entre a existência das pedras e a função do artista no meio onde ele vive. A representatividade de uma rocha, para assim ser considerada, depende de sua permanência no tempo e no espaço, isto é, trata-se de um fenômeno o bastante respeitável para se fazer parte da história e da dinâmica da Terra.

 

“...o artista deve representar o tempo e o espaço dele”.

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