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Quem são e a que vieram os arcanjos de Lourenço de Bem?

“É um projeto antigo. Iniciado, parado, retomado há dois anos. Logo depois de ter fechado um ciclo de trabalho, naturalmente surgiu o desejo de fazer uma instalação...”, diz Lourenço de Bem, quando indagado sobre os anjos que o artista vem esculpindo.


Durante todo este período de produção de anjos – entre início, meio, interrupções e continuação –, Lourenço de Bem se viu inúmeras vezes intrigado com o objeto em si, com as expressões e movimentos de cada arcanjo, com a mensagem que eles estariam trazendo, enfim, com todos os intentos e delírios inerentes a um processo de criação que envolve a obra de arte e seu autor.


Os anjos de Lourenço de Bem são esculpidos em arame, papel machê e materiais alternativos que permitem serem pós-moldados, isto é, terem seus movimentos e corpos alterados de acordo com o insight daquele momento – enquanto o artista encontra-se ali inteiramente concentrado na composição, na inspiração, no resultado – o que ocorre desde as etapas iniciais até a derradeira.


“Ver um anjo pronto não permite ao expectador, creio, imaginar o quanto o processo do feitio é doloroso”.


De fato, quem por ali andou ou frequentou o Ateliê Lourenço de Bem, nos últimos dois anos, pôde ver de perto um único anjo sofrer inúmeras transformações, sejam elas no tamanho, na feição, gestos, expressão, na própria anatomia, nos movimentos do corpo, no tecido da indumentária de cada anjo. Das dezenas de anjos que serão, cada um deles certamente recebeu alguns, não poucos, tratamentos desde seu nascimento à fase atual – o que, ainda, não significa dizer que um deles já se encontra finalizado.

“Se o artista não tiver um propósito, ele para. Trabalhei muito nos anjos, fiz muita coisa, e ainda falta muito para chegarem ao ponto desejado”. Destarte, muitos que pareciam, para os expectadores, ter chegado ao ponto ideal, não estão prontos ainda aos olhos do artista.

Nessa empreitada, De Bem tem feito numerosos experimentos inclusive em termos de tonalidades, até porque dentre seus objetivos encontra-se a necessidade de dar aos anjos uma cor capaz de revelar a protuberância da obra de arte mesmo na ausência de luz.


“Trata-se de emanação divina, ou seja, algo que não se encontra nessa dimensão, mas que traz a ideia cósmica de que estamos todos interligados e, desta forma, que a Terra é também uma coisa viva, onde todos somos parte do todo”.

“O primeiro deles é o arcanjo São Miguel com a espada de fogo – o arcanjo que subjugou Lúcifer. Ele vem com essa revoada trazendo a mensagem, a intimidação”. Sobre os demais, Lourenço de Bem diz ainda não ter certeza: "Ainda não se revelaram para mim!" (risos)

Os arcanjos, como se sabe, são anjos de classe superior, os únicos que tiveram privilégio de ver Deus. São seres absolutos e, muitas vezes, furiosos. Logo, Lourenço de Bem adverte sobre as expressões faciais e gestuais dos anjos, as quais não se apresentam gentis e serenas, mas, ao contrário, pois, estes arcanjos se expõem abalados e bravos diante das ações irresponsáveis (sem limites) do homem ao Planeta Terra.

“A ideia não é esteticamente delicada. Eles (os anjos) não vêm para abençoar, mas para cobrar da humanidade, dizer ‘Acorda! Olha aí o que vocês estão fazendo!’”.

O artista pretende apresentar a revoada em movimento, e de forma alada.


Inda que não se tenha uma ideia exata de quando a obra estará completa para mostra, dois de seus anjos foram expostos ao público pela primeira vez no final do ano passado (2015) – um na Casa Cor Brasília e outro na Galeria de Arte Luz Violeta. Mas, são eles apenas dois dos integrantes de uma revoada com dezenas de arcanjos que estão por vir. Este é o plano.


Enquanto labora o artista, aguardamos ansiosos pelo gran finale!


Brasília, 11 de fev 2016 ~Texto e Fotos: Renata Coli

Palestra e exposição na Casa Cor, 2015.



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